terça-feira, 31 de março de 2020

ESPERANÇA PARA A VIDA



“Quero trazer a memória o que me pode dar esperança”.
(Lamentações 3.21)

            Apatia, fuga da realidade, desinteresse, mentiras, fobias, estresses, brigas, feridas no corpo e na alma, entre outras situações, são marcas da modernidade, que tipificam a vida do ser humano, na época presente. As pessoas têm conquistando, tantas coisas, em tantas esferas, contudo essas conquistas, que clara e perceptivelmente tem trazido comodidades e facilidades, não se exprimem em melhoria da vida.
            Em Lamentações, o profeta Jeremias, retrata o caos vivenciado pelo reino de Judá em seus dias, fruto da separação do povo para com Deus. Que por sua vez, não aconteceu do dia para noite, mas ocorre lenta, gradativa e continuamente. A nação não sentia necessidade de Deus e consequentemente se esqueceu de Deus. Sua luta pelo alcance das necessidades e ainda acúmulo de bens e riquezas, conduziu a opulência, que foi como laço, para afastá-los de Deus. O povo não se enxergava pecador, ainda que vivesse em meio a inúmeras práticas pecaminosas, que ofendiam diretamente a santidade de Deus. O povo quer alcançar seus objetivos de vida, entretanto independentes do Criador e de Sua santa, boa e agradável vontade.
            O resultado não poderia ser outro: o Senhor Deus, levantou Babilônia, como Seu braço, para executar Sua Santa Justiça. Assim, o Reino do Sul foi devastado, as cidades saqueadas, os guerreiros mortos, as mulheres e as crianças foram levadas como escravas, o rei teve os olhos vazados e a casa real seus príncipes, mortos. Restando somente velhos, doentes e a plebe. Não havia força, não havia sabedoria, não havia esperança, não havia mais nada. Assim também ocorre conosco, ao nos rebelarmos ao senhorio do bondoso e dadivoso Senhor. Somos tomados pelos desejos de nossos corações rebeldes, que a todo custo querem habitar além de Deus.
            Quando vivemos distante de Deus, também caímos no mesmo erro. E ao achar que “nosso sucesso”, ou a “nossa vitória” foi fruto do nosso esforço (força, sabedoria, persistência, ou outra variante qualquer). Flagrantemente evidenciado é, que, ao nos afastamos de Deus, nosso coração é tomado pelo desespero, pela dor, pela arrogância, pela malícia, pela morte, enfim pelo inferno. Logo, quanto mais nos pormos “fora do alcance” do Soberano, mais longínquos queremos ficar e permanecer d’Ele, até o momento, em que a calamidade bate a nossa porta, e nos revele, o verdadeiro quadro, daquilo que somos: frágeis, pequenos, passageiros, incultos, incapazes, imperfeitos, isto é, somos apenas pó.
            Precisamos de alguém, que cuide de nós, que nos guarde, que nos proteja, que nos assista, que nos restaure, que nos salve, inclusive de nós mesmos. Necessitamos de Deus e de sua graça. “Trazer a memória o que pode dar esperança” é lembrar-se de Deus e de seus atributos: Eternidade, Justiça, Amor, Bondade, Benignidade, Santidade, Eternidade, Misericórdia, Graça, Onipotência, Onisciência, Onipresença, Imutabilidade... Logo, quanto mais elevarmos nossa mente a presença de Deus e mais inclinados formos a obedecer aos seus retos juízos. Mais felizes, satisfeitos e gratos seremos.
            Trazer a memória o que pode dar esperança é nunca esquecer que Deus é o mesmo ontem, hoje e o será por toda a eternidade, e ainda, que sua palavra e seus propósitos não mudam. Então, que mudemos nós, vamos lançar sobre Jesus, toda a nossa ansiedade, pois Ele tem cuidado de nós, e uma vez que Ele não dorme, nem descansa, mas ao contrário nos guarda e protege de dia e de noite. Ao trazermos a memória o que nos dá esperança, afirmemos tal qual o salmista: Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo (Sl 116.7), Amém.

Rev. Eugênio Honfi

segunda-feira, 30 de março de 2020

PEREGRINOS!!!




“Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.” 1 Pedro 2.11-12.

      “O Peregrino” é indiscutivelmente a obra mais conhecida de John Bunyan, escritor e pregador cristão do Século XVII. Apontada dentro do seguimento protestante, como sendo, depois da Bíblia Sagrada, a obra mais traduzida para outros idiomas.
      Na citada obra, o ator relata a condição de transitoriedade da vida. Cristão, um homem, que envida diligentemente todos os esforços na busca da Santa cidade. Nessa persistente procura se apresentam: perigos, distrações, facilidades e comodidades, que tentam contínua e constantemente demovê-lo de seu firme propósito. A caminhada é dura, não só pelas dificuldades existentes, mas também, pelo pesado fardo carregado pela personagem.
      Em sua andança, o peregrino recebe importante auxílio vindo dos céus, sem o qual, lhe seria impossível obter sucesso nessa ardorosa empreitada. Percebe-se ao longo da peça literária, a intervenção do Deus Eterno, desde o reconhecimento da condição pecaminosa, quer seja própria, quer da cidade em que habita. Assim também do aparecimento de personagens que o ajudam a perseverar em seu objetivo. O sucesso do personagem central, não está em si próprio, mas no testemunho da ação soberana de Deus, na vida daquele.
      Nossa caminhada foi perfeitamente exemplificada por meio dessa importante obra. Que nada faz, senão servir de exemplificação do texto sagrado das Escrituras do Antigo e Novo Testamento. Precisamos nos aperceber que de lá para cá, apesar de todo advento e desenvoltura tecnológica, a verdadeira felicidade está em Deus e consequentemente no estreitamento da relação de comunhão com Ele. Não é a quantidade de bens, ou de amizades, ou até mesmo nas benesses recebidas de Deus, ou de qualquer outra coisa, mas exclusivamente na Pessoa do Criador.
      Meios não justificam fins, assim como, o muito que se pode ter, consequentemente também acarretará a multiplicação de suas preocupações. É imprescindível nos despirmos de nós mesmos, de nossa vontade, isto é, de nossa antiga natureza, através do sacrifício de Jesus, para que sejamos vivificados, chamados, capacitados e conduzidos a percorrer as sendas da vida, a fim de que cheguemos ao nosso destino final, a Cidade Santa.
       É necessário lembrar, que os nossos atos tem consequências eternas, ou seja, aquilo que fazemos hoje, aqui e agora, reflete para a eternidade! Por mais que tenhamos o cuidado de sermos pontuais e cuidadosos em nossas ações, as mesmas reverberam e atingem outros de forma e maneira que não temos como comensurar a intensidade ou a efetividade, nem a forma ou a maneira! Entretanto, fato é que outros são afetados positivamente ou negativamente por nós!
      Logo irmãos busquemos não as coisas dessa terra corrompida, que a traça rói, o ladrão rouba e a ferrugem corrói, mas desejemos as coisas lá do alto, que são santas, eternas e imarcescíveis, pois procedem do Pai das luzes, que é uma contínua fonte de bênçãos inextinguíveis. Não esqueçamos nós, que também somos peregrinos! Estamos apenas de passagem! Nossa pátria celestial nos aguarda! Aleluia!
      Ao Senhor governador soberano sobre tudo e todos, cujo Reino de Santidade nos eleva aos céus, seja tributada: honra glória e louvor. Amém!

Vosso conservo, Rev. Eugênio Honfi.

domingo, 29 de março de 2020

A DOR DA SOLIDÃO OU A BÊNÇÃO DA SOLIDÃO?







Jacó partiu de Berseba e seguiu para Harã. Quando chegou a certo lugar, ali passou a noite, porque o sol já se havia posto. Pegou uma das pedras do lugar, fez dela o seu travesseiro e se deitou ali mesmo para dormir... Quando Jacó despertou do sono, disse: — Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia.

(Gênesis 28.10-11, 16 - NAA)



            Fomos criados por Deus para vivermos em comunhão! Primeiro com Ele, depois uns com os outros! Razão pela qual sentimos em nosso peito uma imensa e também intensa necessidade de nos relacionarmos! Esse desejo é da natureza constitutiva do homem, enquanto ser humano! Não importando a faixa etária em que estivermos, ou se estamos vivendo uma transição! Ou ainda, em meio às muitas transições do viver, que o simples fato de estarmos vivos nos impõe!

            Entretanto essa necessidade e desejo gregários nos geram muitos conflitos! Ora porque afirmamos:

                        - Ninguém me entende!

                        - Ninguém se importa comigo!

                        - As pessoas são egoístas!

                        - Cada um só quer olhar para si mesmo!

            E o famoso dito popular, que é uma deturpação das palavras do Senhor Jesus (Mateus 6.10): - Venha a nós Vosso reino nada!

                        Todas as expressões elencadas acima, bem como tantas outras são na verdade expressões de corações caídos, e que, por conseguinte, sempre permanecem com os olhares voltados para si mesmos! Lamentando o que acreditam ser o direito de cada um, no qual não está sendo respeitado! E que os leva entre outras resultantes o distanciamento dos outros, a tão temida solidão!

            É uma solidão interna, silenciosa, fria, doentia, fétida, apodrecida, pois é fruto em sua maior parte da rebeldia do distanciamento de Deus! Mas também existem outras circunstâncias é bem verdade! Tempos de guerra! Tempos de pandemia! Tempos de insegurança! Entre tantas outras situações que nos impõe a necessidade de inúmeras restrições à vida e aquilo que temos por normalidade de nossas existências! Há situações nas quais pessoas ponderam e escolhem finalmente o isolamento social, como alternativa de proteger-se de pessoas, de intenções, de afeições, de medos, de projeções próprias e tantas outras situações e possibilidades que é inimaginável nominá-las todas.

            Quando nos voltamos ao texto da Sagrada Escritura supracitada acima, nos deparamos com o patriarca Jacó, em meio a um ciclo muito particular de sua vida! O contexto próximo nos informa que ele havia juntamente com Rebeca, sua mãe, tramado uma estratégica encenação, na qual mentiu e enganou seu pai! E roubou a primogenitura de seu irmão mais velho! O retrato de uma família dividida, que apesar de todos estarem posando sorridentes para a mesma fotografia, cada um vive uma vazia e triste realidade, independente da necessidade do outro! Vivendo uma confusa e perturbadora contradição, uma vez que convivem juntos, mas separados! Ou separadamente juntos em meio às inclinações narcisistas do caído coração humano!

            Jacó como tantas outras pessoas estão sozinhas em meio às caminhadas! São tantas idas e vindas! Tantas rupturas! Tantos anseios! Tantos temores! A permanente busca de sentido para a vida! Ou talvez a peregrinação na realização de objetivos fáceis ou difíceis, simples ou complexos, específicos ou múltiplos, são algumas das conjecturas possíveis e palpáveis. No caso do patriarca em questão, ele empreendeu a busca de uma esposa, do início de sua própria família. De como haveria de sustentar sua casa. Mas o que ele não tinha em mente, e nem havia marcado na agenda de sua vida era a da descoberta de sua própria identidade! E a cura de todas as mazelas de sua jovem, cansada e angustiada alma.

            Como transeunte, longe do conforto e comodidade do seio familiar, sem recursos, ao relento da noite, sozinho toma uma pedra para apoiar sua cabeça e adormece! Fico pensando quantos pensamentos não povoaram sua mente até que adormecesse? Quantas vezes ele não desejou retornar para a casa de seus pais? Quantas vezes não ensaiou suas desculpas, para que pudesse ser reintegrado a intimidade da sua família? Quanta vez não pontuou nos dedos, as desavenças com seu irmão e que foram perdoadas, assim lançadas ao esquecimento? Quantas vezes não foi tomado por variados temores voltado ao desconhecido? Quantas vezes não refletiu sobre como seria a recepção de Labão, seu tio, ou pelos demais parentes? Quantas vezes ele não sentiu verdadeiro e sincero arrependimento, mas ainda assim vergonha para retornar? Tantos questionamentos, tantas dúvidas, tantos temores, certamente a melhor coisa a fazer, senão a única possível era apenas dormir, para no dia seguinte continuar sua jornada.

            Tendo adormecido, Jacó sonha! Não foi um sonho como os outros, anteriormente vivenciados! Esse foi diferente! Singular! Em meio à dor da solidão, ele conhece através da graça divina a auto revelação de Deus, por meio de uma escada que ligava o céu a terra! Na qual contemplou seres celestiais subindo e descendo! Que visão aterrorizantemente espantosa! Ele acorda atônito e reconhece que estava longe das pessoas, das coisas, das situações, mas não de Deus! Que descoberta! Você pode fugir da presença de pessoas, de coisas e até mesmo de situações, mas não terá nunca, como fugir da presença do SENHOR! Ele se faz presente em toda a face da terra, mas também nos céus lugar de sua habitação, bem como nas profundezas dos mares, e isso ao mesmo tempo! Ele é maior que toda a imensidão do cosmos, na verdade toda a criação repousa segura nas palmas de Suas santas e poderosas mãos!

            A solidão vista certamente como uma maldição! Agora se demonstra como bênção para Jacó, pois nada e nem ninguém poderia desviar sua atenção, ou gerar em seu coração competição! Nesse momento ele dispõe-se completa e unicamente para contemplar a Deus! Ele tira até mesmo os olhos de si e foca a beleza de seu Criador! Nem ao menos se permite dispor-se a alimentar seus temores pessoais, ou chorar suas próprias misérias! Ao contrário! Ele se rende a grandiosidade e graciosidade de Deus! Em sua asseveração irrompe o sepulcral silêncio e diz: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia”, (Gn 28.16). A grandiosidade de Deus fez Jacó perceber que temores e dificuldades são apequenados! Já a graciosidade do Criador em auto revelar-Se deu ao patriarca a devida compreensão de sua limitação, pequenez e ignorância!

            O filho do filho da promessa declara ainda: “Quão temível é este lugar! É a casa de Deus, a porta dos céus” (Gn 28.17). Ele efêmero, imperfeito e transitório aponta para a perfeita e incorruptível santidade do Eterno. Entretanto a sua declaração final é profundamente consoladora, pois ao sinalizar a casa de Deus, o neto de Abraão aponta para a fidelidade do cumprimento da promessa que viria a ser cumprida na pessoa do Redentor, o Senhor Jesus! Uma vez que os anjos estão descendo e subindo podemos afirmar que a Porta dos céus ainda está aberta! Jesus afirmou que Ele é a porta (Jo 10.7). Também disse que aquele que viesse a Ele não seria lançado fora (Jo 6.37)! Veja que foi necessário estar só, para que Jacó pudesse refletir e se aperceber o quanto ele necessitava da presença de Deus a seu lado!

            Podemos assim concluir que na falta de familiares e amigos, podemos até pensar que estamos sozinhos, todavia jamais desacompanhados! Que na ausência de pessoas podemos desfrutar da presença de Deus de uma forma mais intensa e sem arrodeios! Que em durante os momentos de introspecção da alma haveremos de encontrar o melhor e mais excelente tesouro, a companhia do Senhor conosco! Que o Senhor se digne não apenas a estar ao nosso lado, mas, sobretudo a nos suster em suas graciosas e dadivosas mãos! E que nós mantenhamos nosso coração na presença do Amado de nossas almas!

            O que para tanto devemos urgentemente aplicarmos a verdade bíblica as nossas vidas, apesar desses dias, em que a calamidade tem batido a porta de todos nós e nos atormentado por meio de medos, incertezas e solidão! Tenhamos uma outra postura!

1.      Vejamos esse tempo, como dádiva do Pai Celestial para que o busquemos, de todo o nosso coração!

2.      Em vez de lamentar, murmurar e reclamar. Disponha seu coração a agradecer e seus lábios a louvar o Santo Nome do SENHOR!

3.      Pense nos outros que vivem na mais completa escuridão, por não possuírem a mesma alegria e esperança que você tem em Cristo Jesus. E compartilhe dessa abençoada e abençoadora salvação, para a gloria de Deus!

4.      Ore e suplique ao Pai do Céu que desperte e fortaleça a sua igreja ao redor do mundo a que viva a verdade do evangelho, ainda que em dias maus, a fim de testemunhar do Senhor Jesus!

5.      Clamemos ao Senhor que nos sustente e nos guarde, mas também que abrevie esses dias que antecedem o retorno do Senhor!

            Fraterno e cordial abraço. Em Cristo Jesus, Senhor da seara. Vosso conservo, Rev. Eugênio Honfi.